“O pesadelo da esquizofrenia é não saber o que é verdade.”

A esquizofrenia é um transtorno psicótico grave e, em alguns períodos da história médica, foi o símbolo máximo do diagnóstico em psiquiatria. No decorrer dos anos, numerosos sinais e sintomas foram descritos para definir sua caracterização clínica e separá-la de outras doenças mentais. O transtorno acomete pessoas precocemente com relação à idade, levando a alterações do pensamento, do afeto e da vontade.

É bastante extensa a lista de alterações psicopatológicas associadas à esquizofrenia. Essas mudanças envolvem praticamente todas as funções psíquicas, mas nenhuma delas é, hoje, considerada específica, exclusiva desse transtorno mental.

Os sintomas da esquizofrenia podem ser divididos em dois grupos: positivos e negativos. Os sintomas positivos são alterações qualitativas em relação ao normal, eles podem ser psicóticos e de desorganização. Os sintomas negativos caracterizam-se por uma redução na expressão de funções mentais, são alterações quantitativas, para menos, em relação ao normal.

Sintomas positivos: psicóticos

Os sintomas psicóticos representam uma grave distorção na apreensão da realidade. As alucinações e os delírios são os principais sintomas psicóticos.

A alucinação é uma alteração qualitativa da sensopercepção. Consiste em uma falsa percepção, na qual o indivíduo tem uma experiência sensorial apesar do estímulo externo correspondente estar ausente. Na esquizofrenia as alterações sensoriais: alucinações visuais, somáticas (ou cenestésicas), táteis e olfativas podem ocorrer, mas as auditivas são mais frequentes.

Na esquizofrenia, pode haver tanto alucinações verdadeiras, cujas características são idênticas às da imagem perceptiva real, como pseudoalucinações, em que o objeto percebido não apresenta corporeidade e é localizado no espaço subjetivo interno.

Entre os sintomas de primeira ordem, considerados específicos da esquizofrenia, encontram-se algumas formas especiais de vivência alucinatória. São elas: vozes que dialogam entre si ou fazem comentários sobre o indivíduo; sonorização do pensamento, que consiste em ouvir o próprio pensamento – antes, durante ou depois de pensar; e sensações corporais impostas, em que o paciente sente que suas vísceras estão sendo manipuladas por uma força externa.

O delírio ou ideia delirante é uma alteração do conteúdo do pensamento. Segundo a definição clássica de Karl Jaspers, ele consiste em juízo patologicamente falso, de conteúdo impossível, ininfluenciável e que se acompanha de uma convicção extraordinária. Na esquizofrenia, o delírio é sempre bizarro e mal sistematizado, podendo ser primário ou secundário. Os delírios bizarros estão associados a um conteúdo impossível: ter morrido, apresentar poderes paranormais, estar em mais de um lugar ao mesmo tempo ou ter sua mente influenciada pelas ondas eletromagnéticas da televisão, por exemplo. Os delírios mal sistematizados na esquizofrenia dizem respeito à falta de coerência interna, articulação e organização às apresentadas pelo individuo para detalhar o justificar sua crença. Nesse sentido, o individuo acredita estar sendo perseguido, mas não é capaz de dizer de forma clara e coerente quem, como ou por que o perseguem.

Sintomas típicos da esquizofrenia – DSM-5:

Positivos Psicóticos

Positivos De desorganização

NEGATIVOS

  1. Alucinação
  2. Delírio
  3. Alterações da consciência da atividade do eu
  4. Roubo do pensamento
  5. Imposição do pensamento
  6. Sensações corporais impostas
  7. Alteração da consciência da Identidade do eu
  8. Despersonalização
  9. Alteração da consciência dos limites do eu
  10. Apropriação
  11. Transitivismo
  12. Publicação do pensamento
  1. Desagregação do pensamento
  2. Bloqueio do pensamento
  3. Alterações da consciência da unidade do eu
  4. Dupla orientação
  5. Paratimia
  6. Ambitimia
  7. Ambitendência
  8. Sinais catatônicos
  9. Negativismo
  10. Obediência automática
  11. Flexibilidade cerácea
  12. Estereotipias
  13. Maneirismos
  14. Fenômenos em eco
  15. Agitação
  16. Estupor
  1. Embotamento afetivo
  2. Anedonia
  3. Hipobulia
  4. Pensamento empobrecido
  5. Déficit de atenção
  6. Flexibilidade cerácea
  7. Estereotipias
  8. Maneirismos
  9. Fenômenos em eco
  10. Agitação
  11. Estupor

Critérios para o diagnóstico de esquizofrenia no DSM-5:

Presença de dois ou mais dos seguintes itens, por um período de tempo significativo (durante um mês, ou menos, se tratado com sucesso).

Pelo menos um dos itens deve ser o (1), (2) ou (3):

  1. Delírios
  2. Alucinações
  3. Discurso desorganizado (ex.: incoerência ou descarrilhamento frequente)
  4. Comportamento catatônico ou grosseiramente desorganizado
  5. Sintomas negativos (i.e., expressão emocional diminuída ou avolição)

Durante um período de tempo significativo desde o início do transtorno, o nível de funcionamento em uma ou mais áreas principais, como trabalho, relações interpessoais ou autocuidado, está reduzido de forma importante, em comparação com o nível atingido antes do transtorno (ou, quando o início se dá durante a infância ou adolescência, há insucesso em atingir o nível de desenvolvimento esperado de funcionamento interpessoal, acadêmico ou ocupacional).

Sinais contínuos do transtorno persistem por pelo menos seis meses. Esse período deve incluir pelo menos um mês de sintomas (ou menos, se tratados com sucesso) que preencham o critério A (i.e., sintomas da fase ativa) e pode compreender sintomas prodrômicos ou residuais. Durante estes períodos prodrômicos ou residuais, os sinais do transtorno podem se manifestar apenas por sintomas negativos ou por dois ou mais sintomas listados no critério A, presentes de forma atenuada (ex., crenças estranhas, experiências perceptivas incomuns).

Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou bipolar com características psicóticas foram descartados porque: 1) nenhum episódio de depressão maior ou de mania ocorreu concomitantemente com os sintomas da fase ativa; ou, 2) se episódios de alteração de humor ocorreram durante os sintomas da fase ativa, sua duração foi breve em relação aos períodos ativo e residual do transtorno.

O transtorno não é atribuível a efeitos fisiológicos de uma substância (ex.: abuso de drogas ou medicação) ou a uma doença clínica.

Se houver história de transtorno do espectro autista ou de transtorno da comunicação iniciado na infância, o diagnóstico adicional de esquizofrenia é realizado apenas se estiverem presentes delírios ou alucinações proeminentes por pelo menos um mês (ou menos, se tratados com sucesso), além dos outros sintomas necessários para esquizofrenia.

Quais são os principais subtipos de Esquizofrenia?

Embora os subtipos não existam mais como distúrbios clínicos separados, eles ainda podem ser úteis como especificadores e para o planejamento do tratamento, pois se baseiam na predominância dos sintomas apresentados por um paciente durante a sua avaliação médica. É importante ter em mente, no entanto, que a manifestação de sintomas é um processo fluido e, por isso, o tipo de Esquizofrenia de uma pessoa pode mudar durante o curso da doença.  Os cinco subtipos clássicos são:

  • paranoide;
  • catatônica; 
  • hebefrênica;
  • residual;
  • indiferenciado

Esquizofrenia paranoide

Os principais sintomas desse tipo de Esquizofrenia são as alucinações, delírios, sensação de perseguição e pensamentos sobre conspirações. Normalmente, as alucinações e os delírios giram em torno do mesmo tema e se mantêm consistentes ao longo do tempo. Fala e escrita confusas, alterações no humor, mudanças na personalidade e desinteresse com a vida social, o que pode resultar em isolamento social.

Os pacientes, no entanto, nem sempre têm dificuldades em manter as suas atividades de rotina e relacionamentos estáveis com outras pessoas. As razões para isso ainda não são claras, mas é possível que uma das causas seja o fato de que os sintomas desse tipo costumam se manifestar mais tarde, quando a pessoa já conseguiu se estabelecer pessoal e profissionalmente. 

Esquizofrenia catatônica

Geralmente se apresenta como imobilidade, mas também pode se parecer com:

  • comportamento de imitação;
  • mutismo;
  • uma condição de estupor.

Os sintomas predominantes nesse tipo da doença são os distúrbios do movimento. Os esquizofrênicos catatônicos podem apresentar considerável redução na execução de movimentos corporais, a ponto de a movimentação voluntária cessar completamente. Em outros casos, pode acontecer o contrário, quando os movimentos aumentam drasticamente.

Os pacientes também podem apresentar resistência para mudar a sua própria aparência, fazer movimentos repetitivos, deixar de participar de atividades produtivas na sua rotina e passar horas parados na mesma posição. Outros sintomas associados à esquizofrenia catatônica são o hábito de repetir as falas de outras pessoas ou imitar seus movimentos.

Esquizofrenia hebefrênica

A Esquizofrenia hebefrênica, também chamada de desorganizada, é caracterizada por um comportamento mais infantil, com respostas emocionais inadequadas e pensamentos incoerentes. Nesse tipo, as alucinações e os delírios são menos comuns, apesar de não serem sintomas excluídos dessa classificação.

Os esquizofrênicos hebefrênicos têm dificuldade em seguir processos e organizar pensamentos. Isso pode prejudicar a execução de tarefas simples de rotina, como escovar os dentes, tomar banho ou vestir-se. Esses pacientes também têm dificuldade em expressar sentimentos e comunicar-se, podem parecer emocionalmente instáveis e ter reações inapropriadas em diversas situações. 

Esquizofrenia residual

Esse tipo de Esquizofrenia é diagnosticado quando o paciente já não apresenta nenhum sintoma proeminente ou quando eles aparecem em baixa intensidade. Algumas alucinações e delírios ainda podem estar presentes, mas as suas manifestações costumam ser menos frequentes do que em fases anteriores da doença. 

Esquizofrenia indiferenciada

Quando um paciente tem sintomas de Esquizofrenia que ainda não estão completamente formados ou não são suficientemente específicos para serem classificados como nenhum dos outros tipos da doença, ele é classificado como esquizofrênico indiferenciado. Nesses casos, os sintomas podem variar em intensidade e frequência, causando incerteza na classificação exata da doença.

Entretanto, é preciso lembrar que os tipos de Esquizofrenia podem variar ao longo da vida de um paciente. Por isso, quem é diagnosticado com Esquizofrenia indiferenciada pode, com a evolução do quadro, ter o seu caso encaixado em outra categoria depois de algum tempo.

Condições relacionadas à esquizofrenia

Transtorno Esquizoafetivo

O transtorno esquizoafetivo é uma condição separada e diferente da esquizofrenia, mas às vezes é confundida com ela. Este transtorno tem elementos de esquizofrenia e transtornos de humor.

A psicose – que envolve uma perda de contato com a realidade – é frequentemente um componente. Os transtornos de humor podem incluir mania ou depressão.

O transtorno esquizoafetivo é ainda classificado em subtipos com base no fato de uma pessoa ter apenas episódios depressivos ou se também tiver episódios maníacos com ou sem depressão. Os sintomas podem incluir:

  • pensamentos paranoicos;
  • delírios ou alucinações;
  • dificuldade de concentração;
  • depressão;
  • hiperatividade ou mania;
  • má higiene pessoal;
  • distúrbio do apetite;
  • interrupções do sono;
  • retraimento social;
  • pensamento ou comportamento desorganizado.

O diagnóstico geralmente é feito através de um exame físico completo, entrevista e avaliação psiquiátrica. 

Como é o tratamento contra a Esquizofrenia?

O tratamento contra Esquizofrenia envolve um conjunto de medidas para amenizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente. Para um tratamento mais efetivo, é importante que o diagnóstico seja feito precocemente por um médico psiquiatra. 

As medidas para tratar a doença podem incluir o uso de medicamentos, psicoterapia e hospitalização, caso seja necessário. O principal ponto do tratamento é a administração de antipsicóticos de primeira e segunda geração.

O tratamento da esquizofrenia deve levar em conta as fases da doença (fase aguda, de estabilização e de manutenção). A fase aguda o paciente chega ao psiquiatra no momento da crise, ou o surto propriamente dito, podendo mostrar-se agitado, desorganizado, desagregado, catatônico. O exame é clínico e fundamental para levantamento da hipótese diagnóstica, além de solicitação de exames e avaliação neurológica.  

A fase de estabilização inicia-se com a remissão do surto, a medicação tem por objetivo aprimorar o tratamento iniciado, evitando as recaídas. Os fatores que predispõe recaídas são: estressores psicossociais, abuso de substância, diminuição, diminuição ou retirada prematura do antipsicótico, e o curso natural da doença.

A fase de manutenção inclui manutenção do esquema ou redução gradual, em intervalos mensais, objetivando a dose mínima necessária para o controle dos sintomas psicóticos.

O suicídio na esquizofrenia deve ser dado atenção especial, principalmente em casos de tentativas anterior de suicídio, humor depressivo atual e ideação suicida, os que podem ser preditivos de uma tentativa de suicídio subsequente.

Quando o paciente coloca em risco sua integridade ou a de terceiros, são indicadas internação e a utilização de contenção mecânica até que a medicação administrada surta efeito.

a psicoterapia tem o intuito de ajudar o paciente em suas relações sociais e restabelecer seus pensamentos e respostas emocionais. Essa etapa pode ser feita de maneira individual ou em grupo.  Na TCC – Terapia cognitiva comportamental as técnicas utilizadas para o tratamento da esquizofrenia, não são as mesmas utilizadas para ansiedade e depressão. Elas foram modificadas a fim de se adaptar a algumas limitações impostas pela doença, como por exemplo, disfunções cognitivas.

Em TCC o terapeuta auxilia o paciente a conectar sentimentos, comportamentos e emoções, independentemente de serem reais ou não, estabelecendo a aliança terapêutica. É trabalhado o confronto com o delírio. Explora-se uma nova explicação para o delírio, levando em conta a compreensão do paciente sobre seu quadro. Trabalha-se a redução dos sintomas positivos

Reabilitação Cognitiva através da Estimulação Magnética Transcraniana

Pacientes com esquizofrenia apresentam déficits em vários domínios cognitivos, como funções executivas, atenção, memória e linguagem. Outros tratamentos não farmacológicos para a esquizofrenia incluem como fator principal o funcionamento cognitivo e cerebral do paciente, estudos recentes têm trazidos novas técnicas de tratamento: eletroconvulsoterapia (ECT). Estimulação magnética transcraniana (EMT), exercício físico e reabilitação cognitiva.

Eletroconvulsoterapia é uma técnica em que uma convulsão é eletricamente induzida em pacientes anestesiados para efeitos terapêuticos, tais como melhorar o humor e volição. A utilização da ECT é considerada uma alternativa de tratamento para aqueles com respostas desfavoráveis aos antipsicóticos utilizados isoladamente depois de receber diferentes tratamentos médicos ou psicológicos e ou para aqueles com forte tendencia suicida e características catatônicas.

A estimulação magnética transcraniana é uma ferramenta que pode ser usada para explorar melhor a função cortical e tratar a sintomatologia psiquiátrica. Ela envolve a geração de um campo magnético por meio da utilização de uma bobina eletromagnética ligada a um dispositivo de EMT. Dependendo das características do estímulo (ex.: intensidade ou forma de pulso), a EMT pode induzir despolarização neuronal, inibição ou facilitação intracortical, bem como liberação de neurotransmissores endógenos, resultando em ação transinaptica. Nos últimos anos, metanálises mostraram que a EMT é eficaz para o tratamento dos sintomas positivos e, em menor medida, negativos da esquizofrenia.

A prática de exercícios físicos promove o aumento nos neurotransmissores (serotonina, noradrenalina, dopamina) e endocanabinoides (anandamida) de produção; alimento da plasticidade funcional; aumento nas células neuronais mensageiras; aumento da libertação de fatores neurotróficos; e aumento em estruturas do cérebro, por exemplo o hipocampo.

Embora existam poucos estudados publicados abordando a influência do exercício físico sobre o curso da esquizofrenia, vários estudos e relatos de caso indicam que a prática de exercício pode melhorar a plasticidade neuronal e o desempenho cognitivo dos pacientes com transtorno.

A reabilitação cognitiva é a estratégia com maior suporte no tratamento de déficits de memória de trabalho e disfunção cognitiva geral na esquizofrenia. Ela emprega a prática de exercícios, ensinando estratégias para melhorar o funcionamento cognitivo, como estratégias compensatórias. A reabilitação cognitiva associada a outras intervenções pode levar a indução da neuroplasticidade, reforçando redes neurais envolvidas com a memória de trabalho.

Na Clínica Prosense, entendemos que a colaboração entre diferentes especialistas é fundamental para oferecer um cuidado completo e personalizado.

Nossa equipe multidisciplinar inclui psicólogos, psiquiatras, nutricionistas, fisioterapeutas, neurologistas e preparadores físicos todos trabalhando com um olhar integrativo para abordar todas as questões relacionadas ao transtorno. O psiquiatra pode prescrever medicamentos para estabilizar o humor, enquanto o psicólogo oferece suporte terapêutico para ajudar o paciente a entender seus padrões de pensamento e comportamento. Nutricionista para auxiliar em uma dieta funcional e saudável.

Na Prosense, não tratamos apenas os sintomas; tratamos pessoas. Nosso objetivo é ajudar cada paciente a alcançar um equilíbrio sustentável e a melhor qualidade de vida possível. Se você ou alguém que conhece está lutando contra o transtorno bipolar, não está sozinho. Convidamos você a explorar uma parceria de cura conosco na Clínica Prosense, onde a compreensão profunda encontra o cuidado compassivo.

Conheça mais sobre como a Clínica Prosense pode ser seu aliado nessa jornada rumo a sua saúde emocional.

Fonte: NARDI. A. E. Esquizofrenia – Teoria e Prática. 2ª Ed. Artmed. 2015.

DSM-V